Cashinahua

Associado à Université Paris X – Nanterre (França) e ao Instituto Max-Planck para Antropologia de Evolução em Leipzig (Alemanha), o objetivo do projeto DOBES é o de montar uma documentação compreensiva da língua e da cultura caxinauá no seu estado atual no Peru e – com um pouco menos de ênfase – no Brasil. Tal documentação oferece a possibilidade para pesquisas mais avançadas elaboradas por lingüistas e antropólogos como também pelos próprios caxinauás. Atualmente pode-se contribuir aos esforços de preservação e fortalecimento do patrimônio cultural das respectivas comunidades e associações caxinauás. Os textos anotados para o acervo tanto como a retranscrição e retradução do vasto corpus de textos históricos e mitológicos coletados há um século atrás por Capistrano de Abreu, farão parte dessa documentação que será acessível ao grupo. Um outro objetivo do projeto é o de oferecer elementos que sirva de base para a elaborar material didático-pedagógico monolíngüe e/ou bilíngüe a ser empregado por professores caxinauás nas escolas de suas aldeias. A documentação dará não apenas uma idéia sobre o modo de viver caxinauá para um público geral, como também uma diversidade de dados – inclusive materiais mais antigos coletados por Camargo e outros pesquisadores (especialmente no Peru); análises serão acrescentadas ao acervo, ao qual os próprios caxinauás terão acesso via internet através das suas associações em cidades brasileiras e peruanas.

O tipo de material a ser incluído no acervo é variado: de textos gravados em vídeo e/ou áudio, fotos, desenhos e resultados de pesquisa (p.ex. um esboço da estrutura fonológica, uma gramática concisa, dados sociolingüísticos). O corpo de dados consiste de textos de diferentes gêneros. Além da gravação haverá uma transcrição fonêmica e uma tradução para o português e espanhol e possivelmente para o inglês (como requerimento para anotação mínima, com ELAN time-linking). Dados culturais de atividades cotidianas e cerimoniais rituais também estarão incluídos. Os participantes caxinauás da oficina de 2006 em Praia do Carapanã testemunharam um grande interesse, sobretudo, pela documentação de rituais e seus cantos, declarando que este material é de interesse para a comunidade dos “caxinauás seringueiros” que estão no processo de revitalização de sua tradição cultural, buscando aprender novamente todo o seu significado. Uma base de dados lexical (parcialmente do material de textos gravados) com as duas ortografias existentes e a ortografia fonêmica utilizada pelos pesquisadores será montada, desta maneira oferecendo a possibilidade para a discussão de uma ortografia unificada nos dois países.

O projeto quer incentivar a participação ativa de membros da comunidade caxinauá como informantes e também na formação, capacitando-se para a gravação, a análise e a anotação de dados, visando a continuidade do projeto de documentação por membros do próprio grupo, quando esta fase desenvolvida por DoBeS-caxinauá estiver encerrada. O interesse pelas atividades de formação é grande de ambos os lados da fronteira.
A documentação do projeto DOBES ocorre sobretudo no Peru, principalmente na aldeia de San Martin, por diversos motivos:

  • No Peru, como mencionado acima, o grau da preservação da língua e cultura caxinauá é mais elevado por causa do maior isolamento, sobretudo se comparado à maioria dos territórios onde vivem os caxinauás brasileiros. Relativamente perto da cidade de Puerto Esperanza e fundada há pouco mais de dez anos, a maior parte dos habitantes da aldeia San Martin é originária da aldeia Balta e de Curanjillo, que fica no rio Curanja (três a cinco dias de viagem de canoa a motor de Puerto Esperanza). O grupo ali instalado fala uma variedade da língua que não mostra muitos fenômenos de contato. Também há vários habitantes idosos de San Martin com um conhecimento específico (contadores de narrativas míticas, conhecedores da memória cultural, artesões).
  • A aldeia oferece uma infra-estrutura excelente como energia solar; é próxima do centro urbano (três horas de barco a motor de Puerto Esperanza), apresentando boa condição logística de trabalho para a equipe DoBeS.
  • A comunidade propôs construir uma casa para os integrantes do projeto DoBeS ficarem durante a sua pesquisa de campo. Casa que poderia também ser usada como centro de documentação ou biblioteca para guardar o material documentado (CD e fitas áudio com formatos mais comuns na área) para os caxinauás em geral. Estes poderão também ter acesso ao acervo digital via internet em Puerto Esperanza.